Vereadores com consumo de combustível igual ao de motoristas de Uber? Estudo questiona uso da cota de combustível

Um estudo elaborado por Guto Zambon, estudante de Ciência de Dados, revelou que alguns vereadores de Curitiba abastecem tanto quanto motoristas de aplicativo que rodam em jornada de 8 horas diárias. A comparação, que pode parecer exagerada à primeira vista, é baseada em dados do Portal da Transparência da Câmara Municipal de Curitiba e mostra que o consumo mensal de combustível de alguns parlamentares ultrapassa o que seria considerado razoável para suas funções institucionais.
Cota pública de até R$ 1.390 por mês com combustível
Atualmente, cada vereador tem direito a uma cota mensal de 200 litros de gasolina, abastecidos exclusivamente em postos conveniados com a Câmara. Com o preço médio do combustível em Curitiba girando em torno de R$ 6,95, segundo a ANP, isso representa até R$ 1.390 por mês bancados com dinheiro público apenas para transporte.
Quilometragem digna de motorista profissional
O estudo indica que vereadores como Éder Borges, Fernando Klinger, Hernani, Meri Martins e Sidnei Toaldo percorrem distâncias compatíveis com a rotina de um motorista de Uber. E, ao contrário desses trabalhadores, que precisam se locomover para gerar renda, os parlamentares contam com salário bruto mensal de R$ 20.484,93, além de equipes de assessores e estrutura de gabinete.

A questão central é: é mesmo necessário rodar tanto para exercer o mandato? A rotina parlamentar geralmente se concentra em reuniões no Legislativo, agendas pontuais em bairros e compromissos institucionais — o que levanta suspeitas sobre o real destino e justificativa para tamanho consumo.

“Desempenho” elevado vs. vereadores que não usam a cota
O levantamento também revelou que 11 vereadores sequer utilizaram a cota de combustível em 2024 e outros 10 apresentaram uso considerado baixo. Ou seja, há parlamentares que conseguem cumprir sua função sem recorrer aos 200 litros mensais, o que evidencia ainda mais a disparidade no uso do benefício.
Não é ilegal, mas é ético?
A prática, embora prevista no regimento da Câmara, expõe uma brecha de controle e transparência. Não há exigência de relatório público detalhado que explique os deslocamentos realizados com o combustível pago pelo contribuinte. Muitos parlamentares, inclusive, protocolam projetos de lei sem viabilidade jurídica, apenas para gerar “pauta” e manter aparente produtividade, o que também contribui para o uso questionável da estrutura pública.
Um alerta para o uso do dinheiro público
O autor do estudo faz questão de destacar que não acusa nenhum vereador de crime ou ilegalidade, mas levanta um ponto importante: o uso exagerado da cota indica falta de critérios mais rígidos para sua aplicação e um possível descompasso entre o discurso de economia e a prática legislativa.
Enquanto muitos cidadãos enfrentam o alto custo da gasolina e lutam para manter seus veículos abastecidos no dia a dia, parte da Câmara Municipal parece viver em outro ritmo de consumo — e de prioridades.