José Dirceu Aponta Crise na Direita e Confiança em Lula para 2026

Em entrevista ao Poder360 no último sábado (29), o ex-ministro José Dirceu, uma das figuras históricas do PT, fez uma análise contundente sobre o cenário político brasileiro rumo às eleições de 2026. Ao ser questionado sobre a força de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) como possível nome da oposição, Dirceu destacou a fragmentação da direita e a vantagem do PT:
“Esse é um problema deles, porque eles estão divididos. Nós temos um candidato que é o presidente Lula. Eles estão divididos. É o Caiado para um lado, o Zema por outro, o Ratinho Junior por outro, e o Tarcísio esperando o Bolsonaro não ser candidato. O Bolsonaro já disse que vai ser candidato, que vai ficar ali na nominata até agosto. Então, a direita está com um grande problema. Nós não, nós temos um candidato”.
O Contexto da Direita Brasileira
A análise de Dirceu reflete um momento de incerteza para a direita brasileira, especialmente após a inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL) até 2030, confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação. Bolsonaro, mesmo inelegível, insiste em manter sua influência, afirmando que permanecerá na disputa até o último momento, o que cria um vácuo de liderança. Governadores como Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Tarcísio de Freitas emergem como possíveis nomes, mas a falta de unidade é evidente. Caiado, por exemplo, lançará sua pré-candidatura em 4 de abril, em Salvador, mas enfrenta resistências dentro do próprio União Brasil, que tem uma ala governista alinhada a Lula. Zema, por sua vez, tem atritos com o bolsonarismo, enquanto Tarcísio, apesar de ser o favorito de Bolsonaro, foca na reeleição em São Paulo.
A Estratégia do PT e a Força de Lula
Dirceu, que voltou ao centro das articulações do PT após a anulação de suas condenações pela Lava Jato em 2024, aposta na unidade do partido em torno de Lula. O presidente, que busca a reeleição, conta com uma base consolidada, especialmente no Nordeste, onde o PT mantém forte apoio social e eleitoral. Além disso, Lula tem trabalhado para manter uma frente ampla, com alianças que incluem partidos como PP, União Brasil e MDB, mesmo que isso gere críticas internas no PT por diluir o perfil ideológico do governo.
Desafios e Oposição
Apesar da confiança de Dirceu, o PT enfrenta desafios. O ex-ministro também usou a entrevista ao Poder360 para defender uma “oposição potencializada” a governadores como Caiado, Zema, Tarcísio e Ibaneis Rocha (MDB-DF), que fazem oposição a Lula em seus estados. Ele criticou a gestão de Ibaneis em Brasília, apontando problemas em saúde, educação e transporte, e vê nesses governadores uma ameaça que precisa ser enfrentada estrategicamente. Além disso, a direita, mesmo fragmentada, tem nomes com apelo regional e pode se reorganizar, especialmente se Bolsonaro conseguir transferir votos a um sucessor, como Michelle Bolsonaro, que já é cotada pelo PL e vista por Dirceu como uma candidata competitiva.
Perspectivas para 2026
A declaração de Dirceu sublinha uma vantagem tática do PT: a unidade em torno de Lula, que, aos 79 anos, segue como uma liderança consolidada, com 50,9% dos votos válidos em 2022. Enquanto isso, a direita precisa resolver sua fragmentação e lidar com a incerteza sobre Bolsonaro. A federação entre União Brasil e PP, que poderia fortalecer Caiado, ainda é incerta e pode tanto alavancar quanto frustrar sua campanha, dependendo do apoio de Bolsonaro, que parece improvável devido a rusgas passadas. Para o PT, o desafio será manter a frente ampla e neutralizar o crescimento de nomes como Tarcísio, que, apesar de focado em São Paulo, é visto como o “próprio bolsonarismo” por Dirceu. O cenário de 2026 promete ser competitivo, mas, por ora, o PT parece jogar com a vantagem da coesão.